sexta-feira, 3 de julho de 2009

O par de cornos (Um)


Na Assembleia da República debatia-se o estado da Nação.
Falava o PM.

Manuel Pinho, ministro, atirou um par de cornos a Bernardino Soares, deputado, respondendo, com um gesto, a palavras que considerou insultuosas. Antes dos indicadores na testa, já o ministro tinha igualmente dito umas quantas palavras que, no seu entender, ao que pareceu, não tinham sido suficientes para suster o que considerou ser agressividade verbal do deputado. Daí o ter passado ao gesto, supôe-se.
Ministro e deputado andaram mal. Ambos se puseram com picardias, enquanto o PM falava. Falta de respeito!
As palavras do deputado ouviram-nas outros três ou quatro parlamentares e, provavelmente, dois ou três ministros, para além de Pinho. O par de cornos nem todos o viram, mas instantaneamente circularam fotografias a mostrá-lo. Fora do Parlamento viu o País que assistia ao debate pela TV. Caiu o Carmo e a Trindade. O gesto do ministro insultara a Assembleia – inaceitável!
Conversa daqui, conversa dali, o ministro diz que sim, que se demite. O PM aceita e de seguida pede desculpa à Assembleia da República, à Nação. Continuou-se!
Assisti, pela TV, a todo o debate. Pelo que vi e ouvi, apeteceu-me demitir uns quantos dos intervenientes e mandar os restantes para o ecoponto. Sou cidadão no pleno usufruto dos meus direitos, tenho os impostos em dia, nada devo ao Estado, pelo contrário, sou credor. Credor de respeito, para além do muito que tenho a cobrar. Os meus impostos não podem servir para sustentar gente que passou mais de quatro horas a insultar-se sem nada me dizer sobre o que é importante fazer-se para que este país seja terra em que se goste de viver. Mentiroso, desonesto, ignorante foram piropos que ouvi do princípio ao fim tudo envolvido em doses cavalares de demagocia. No final, aproveitaram um par de cornos para se esconderem!
Bem sei que as palavras criam incertezas que cada um joga como quer, e os gestos não, por isso se diz que um destes vale mais que mil daquelas. No caso do ministro, porém, não se percebeu o que queria ele dizer já que, ao que se julga, o deputado Bernardino Soares é solteiro. Como também não consigo entender o que querem os portugueses dizer uns aos outros quando no trânsito automóvel das cidades vemos mãos de fora dos carros a esticarem-se com médios erectos e indicadores e anelares encolhidos. É fácil – os portugueses são gente de gesto, aquilo são gestos bem portugueses. Pois, está bem, mas um médio erecto com os vizinhos murchos é inaceitável.
E o do ministro, não foi?
Comparado com o que Jardim faz e diz na Assembleia Regional da Madeira não passou de um gestozinho!

1 comentário:

Mª João C.Martins disse...

Verdade, verdadinha, Carlos!
Parece um país a fingir que o é, e onde nós somos apenas meras marionetas.
Vergonhoso! Haja respeito sim! Porque é com ele que se ganha honra. Mas sabem lá esses senhores o que é isso!?