- É por ali.
Respondeu à brisa chegada perguntando por onde era o caminho.
- Por ali? Vamos, então. Dá-me a mão.
Pela janela por onde entrara, trazida pelo amanhecer de Outono, levou-o ao passado. Chegados, soltou-se-lhe.
- Logo, antes do Sol se despedir virei buscar-te.
Ele está aqui estreando calça comprida de bainha virada, sapato novo feito à medida, cabelo de popa segura com fixador adragante, camisa de fora, dois botões soltos, cigarrito caricoco fumegante entre o indicador e o médio da mão direita, mão esquerda no bolso da calça. No quintal da rebita de Sábado à noite, na casa da senhora do Bairro Operário. Ali à direita, debaixo da mangueira, estão as celhas com gelo, cerveja e spur-cola. Numa delas vai mexer, a iniciar-se no gosto da cerveja. À frente uma mesa com petiscos. À esquerda, protegido por um telhado de chapas de zinco, o gira-discos rodando música de mexer com a gente. Agora, ouve bem a Peneira de Luís Gonzaga.
Ela vem lá do fundo. Pára junto dele.
- És novo? Nunca te vi!
Linda, morena, de olhos verdes mestiços, cabelo comprido correndo-lhe sobre o peito até à cintura, decote cheirando doce. Um sorriso parecendo o do mar calmo antes das calemas. Um pestanejar como o das casuarinas em noite de luar. Os passos que a trouxeram bambolearam-na. Flutuou, era uma visão, por certo!
- Vem, vamos dançar.
Avançou para as estreias. Foram com os pés dele pisando os dela, e ela sorrindo um sorriso de Kyanda. Põe-lhe a mão no ombro. Encosta a sua à cara dela. E ela sussurra, vem…
A esteira não tinha metades. Foi única, para os dois.
Pelo pé de caxinde, crescido ao canto, desceu a brisa. Era hora de regressar ao futuro, onde chegaram ao entardecer de Outono. Ele com uma flor na mão, cheirando a ela.
Respondeu à brisa chegada perguntando por onde era o caminho.
- Por ali? Vamos, então. Dá-me a mão.
Pela janela por onde entrara, trazida pelo amanhecer de Outono, levou-o ao passado. Chegados, soltou-se-lhe.
- Logo, antes do Sol se despedir virei buscar-te.
Ele está aqui estreando calça comprida de bainha virada, sapato novo feito à medida, cabelo de popa segura com fixador adragante, camisa de fora, dois botões soltos, cigarrito caricoco fumegante entre o indicador e o médio da mão direita, mão esquerda no bolso da calça. No quintal da rebita de Sábado à noite, na casa da senhora do Bairro Operário. Ali à direita, debaixo da mangueira, estão as celhas com gelo, cerveja e spur-cola. Numa delas vai mexer, a iniciar-se no gosto da cerveja. À frente uma mesa com petiscos. À esquerda, protegido por um telhado de chapas de zinco, o gira-discos rodando música de mexer com a gente. Agora, ouve bem a Peneira de Luís Gonzaga.
Ela vem lá do fundo. Pára junto dele.
- És novo? Nunca te vi!
Linda, morena, de olhos verdes mestiços, cabelo comprido correndo-lhe sobre o peito até à cintura, decote cheirando doce. Um sorriso parecendo o do mar calmo antes das calemas. Um pestanejar como o das casuarinas em noite de luar. Os passos que a trouxeram bambolearam-na. Flutuou, era uma visão, por certo!
- Vem, vamos dançar.
Avançou para as estreias. Foram com os pés dele pisando os dela, e ela sorrindo um sorriso de Kyanda. Põe-lhe a mão no ombro. Encosta a sua à cara dela. E ela sussurra, vem…
A esteira não tinha metades. Foi única, para os dois.
Pelo pé de caxinde, crescido ao canto, desceu a brisa. Era hora de regressar ao futuro, onde chegaram ao entardecer de Outono. Ele com uma flor na mão, cheirando a ela.
14 comentários:
Amigo Carlos,
Você está sempre na linha da frente, se não é o primeiro é segundo, obrigado pelos seus comentários, e pela sua pontualidade.
Você tem sempre bonitos textos e sempre actuais,peço desbculpa por não puder comentar em todos ando com obras em casa e anda para aqui uma reveloção, e vai se manter durante algum tempo.
Um grande abraço,
Muito bonito este texto. Fui dar uma espreitadela ao seu perfil. Engraçado somos do mesmo signo.
Bom gostei de saber que tinha sido aluno do Salvador Correia. É angolano? Sabe eu vivi em Luanda. Primeiro na Samba, e depois por cima do Bazar Oriental, Frente à missão de S. Paulo. Era empregada na Secretaria dos Irmãos Maristas na Estrada de Catete. Vim em Agosto de 1975.
Um abraço
Amigo José,
Nada há a desculpar. Venha quando puder e quiser. Será sempre bem-vindo.Obrigado por se referir aos meus textos de forma tão simpática.
Um grande abraço.
elvira carvalho.
Não, não sou angolano. Já lhe respondi, com mais pormenor, no seu blog A Mulher e a poesia.
Foi bom saber que gostou do texto.
Um abraço
Um texto muuito bem elaborado, prendedor. Visualizei as tantas cenas narradas. Parabéns. Um abraço
Caro Carlos;
Obrigado pelos comentários, bem simpáticos, que fazem sempre bem.
Li este "Conto do passado" que é uma bela crónica, bem escrita e que me faz descobrir um estilo literário agradável e fácil de interpretar.
Por cá voltarei porque este seu blog é um prazer à leitura.
Obrigado e um braço,
Osvaldo
gosto do jeito a Eça De Queiroz ;)
desculpa, mas é que parece mesmo..., principalmente quanto à descrição do espaço...
está optimo.
parabens
Carlos Soares,
Obrigado, xará.
Um abraço
Caro Osvaldo,
Foi um prazer ter conhecido o seu blog a que voltarei.
Obrigado pelo comentário ao meu "Conto do passado".
Um abraço
Sininho,
Jeito à Eça...é elogio que não mereço.
Obrigado.
BJS
Carlos,
Cá estou (também te conheci através da Sininho que é uma lufada de ar fresco neste mundo tristonho) a espreitar a tua "casinha" da blogosfera.
Não sei qual é a tua nacionalidade, mas sei que tens uma enorme capacidade de transmitir imagens, cheiros, cores. A descrição que fazes da figura masculina remeteu-me para o nosso marialva, o fadista "atiradiço", o gingão. Penso que o texto é da tua autoria, por isso, dou-te, sinceramente, os Parabéns.
Escusado será dizer que ficarei por aqui, a seguir-te.
Quero espreitar com mais calma, todos os cantos desta "casinha".
Abraço.
Teresa,
Sou português. Só, assim, português.
O texto é meu. Obrigado pelo comentário.
Quando aqui edito trabalhos alheios cito sempre a autoria. Sou contra plagiadores e copistas!
Obrigado, de novo, por teres decidido ficar por aqui a seguir-me.
Abraço
Agradeço a saudação, Princesa. Já estive no Magia da Lua.
Beijinhos
Carlos
Existe uma doçura tamanha na forma como escreve e descreve que simplesmente é muito prazeroso para mim lê-lo!
Não consequirei descrever o que senti ao ler este delicioso texto, apenas lhe digo que me pareceu ( terna sensação) que estava perante uma outra versão da " valsinha". Sei que desta forma será mais fácil entender-me..
Um beijinho e parabéns
Há pessoas cujo dom da escrita é algo que está patente em tudo o que escrevem, seja qual fôr o tema ou o estilo que adoptam
Maria João.
Entendo-a perfeitamente quando faz referência à "valsinha"...
Obrigado por ter gostado do texto. O seu comentário é meigo e terno.
BJS
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