Não é, não senhor! Veja-se a gritaria que por aí vai: Ufa, até que enfim há acordo!
A vaga habitual de analistas, comentaristas e politólogos (a mais recente estirpe dos faladores) alagou jornais, rádios e televisões. Todos, sem excepção, se extraviaram em jogos semânticos, anunciando vencedores e perdedores, azucrinando-nos o juízo. Tempo perdido, trabalho inútil.
Vencedor há apenas um. O leite achocolatado!
O PS do engenheiro José Sócrates, partido que apoia o Governo e que se diz de esquerda (gandas malandros!) sempre disse que o leitinho com chocolate era coisa para endinheirados. O PSD do Dr. Passos Coelho, partido de matiz neo-liberal, que se esgadanha contra o Governo, dizia que não, aquilo é um bem de consumo adquirido pela classe média, havia que não o subir de preço.
Entre os 23% de IVA pretendidos pelo Governo e os 6% exigidos pelo PSD, a vitória foi para os últimos. Ganhou o leite achocolatado!
Mexe aqui, toca ali, foi o acordo assinado, logo aparecendo o ministro das Finanças a gritar que o entendimento tinha aberto um buraco de 500 milhões de euros no OE. Não encontro no ministro características de alfaiate, quero com isto dizer que não estou a vê-lo pegar num pedaço de ganga de umas calças já muito roçadas, a um passo do lixo, e com ele remendar o rasgo orçamental. Como também não me parece que o ministro seja ser de fugir com o peito às balas (pelo menos até agora), não me custa admitir que nos próximos tempos andará por aí numa correria desenfreada à procura de um Norte que lhe traga a solução.
Tenha calma, senhor ministro. Não se afadigue.
A solução está à mão. Devolva um dos submarinos à senhora Merkel, sim, essa que quer ser imperatriz da Europa, tendo por bobo da corte o senhor Sarkozy, que toca piano e fala francês. Mete ao bolso os 500 milhões. O OE flutuará e Portugal também, nem que seja por uma ou duas semanas, logo se verá. Não se importe que digam submarino ao fundo. E depois? Pedimos uns dongos aos angolanos, não há salalé que lhes dê. Se a coisa der para o torto, não se preocupe, cá nos desenrascaremos. Não são os portugueses um povo desenrascado como não há igual?
Mas, pelo sim pelo não, não vá o diabo tecê-las, arranje aí uma quinhenta de jeito. Mande comprar uns coletes salva-vidas e distribui-los à rapaziada.
E agora, senhor ministro calce as pantufas, chegue-se à lareira e beba um leitinho com chocolate, bem quentinho. Deixe-se estar. Nas eleições que aí vêm escolheremos outros. Poderá, então, tirar a tal fotografia que queria ao lado do Dr. Catroga, o seu "adversário" nas conversações, ambos por nós colocados na reforma. Quando a um e outro perguntarem a profissão, responderão apenas: pensionistas.