sábado, 27 de junho de 2009

Cogitações (Fim-de-semana)


Agradecimento
ao
Sábado

Segunda, Terça, Quarta, Quinta, Sexta (STQQS).
Faz tempos que andam por aqui, na mesma rotina: Segunda, Terça, Quarta, Quinta, Sexta…e, voltam ao princípio, a girar o disco e a tocar o mesmo, ou a levar o CD para a faixa 1.
São todas, as STQQS, substantivos femininos, são elas, sem tirar nem pôr, por muito que arrefeça à Segunda, granize à Terça, troveje e chova à Quarta, reaqueça à Quinta, e nos multem à Sexta, ao regressarmos apressados a casa, perante o faz de conta, esquece, da senhora Sexta, ela própria a pedir que lhe mandem a Segunda e nos arredem do caminho. Umas chatas, é o que elas são, especialmente a Segunda, essa menina que mais não sabe do que pôr-nos a semana à frente.
Sábado, Domingo. O Sábado é dado a leituras, como adiante se verá.
Mexem por aqui, igualmente, ao que se supõe, ao mesmo tempo que elas. Rolando, rolando, mas decidindo, um dia, quebrar o vinil, coisa que, antes de nós, já eles conheciam. São, ambos, substantivos masculinos, são eles, igualmente, como elas, sem tirar nem pôr, não se diga tal, porque não é tanto assim, é pior. Ao Sábado e ao Domingo, não há chuva, granizo ou vento, relâmpago ou trovão, que não nos bata à porta, se meta pelas janelas e nos perturbe, às vezes levemente, como se poeira mais grossa fosse, que por aqui não há neve, outras nem tanto, mais parecendo demónios à solta, ou os celtas vermelhos e pretos do halloween a perguntarem-nos: gostosuras ou travessuras? Brrr…! Ao Sábado e Domingo, também, é certo e sabido, lá aparecem os compradores de almas a venderem-nos credos religiosos; o vizinho do lado que gosta de cozinhar nestes dias, mas se esqueceu de comprar os ovos para as omeletas, ou quer fazer um buraco e não tem berbequim; o não sei quem aos gritos porque ficou preso no elevador; o pneu do carro furado; o filme que não passa no cinema do shoping porque acabou o tempo de exibição; as televisões a repetirem enlatados; o passeio adiado porque chove a potes; um Trojan no computador a pôr o Avast! aos berros; a Net que foi abaixo porque a Zon não dá conta do recado.
Só as multas ficam de fora, quando nos quedamos na cubata sem que a Sexta nos ponha o olho.
Um dia tudo mudou. O Sábado, dado a leituras, como ali atrás se disse, pôs os olhos em O Dia da Criação:
"...Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por vias das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo o mal..."
(Vinicius de Moraes)

Cochichou com o Domingo, perguntaram ambos, não se sabe o quê, desconhece-se a quem, juntaram farrapos em união de facto, esticaram indicadores e médios num V, e fizeram-no nascer: O Fim-de-semana. Acabou a bagunça. Deixámos de andar, como saltimbancos, de Segunda para Terça, às vezes esquivando-nos à Quarta para chegar à Quinta, e por aí fora. Queremos lá saber do Sábado e do Domingo. Pegamos no Fim-de-semana e zarpamos até fartar! Por vezes nem a noite que os une se salva! Obrigado Sábado por gostares de leituras.
Artistas, não?
Há por aí alguém quem não goste da criação?

3 comentários:

Raquel Abrantes disse...

Nossa...rs Parece um final de semana de fúria... rs Sábados de leitura, concordo. E os outros dias todos buscam a sexta-feira de descanso. O enfadonho domingo que promete cinco dias escravizados de trabalho para movimentar o capitalismo global, que nos faz rodar, rodar, sem direito a pensar muito... afinal, para isso temos apenas o sábado...

Carlos Albuquerque disse...

Oi, Raquel:
De fúria? Claro! Mas está lá o Sábado amigo das leituras que alarguei ao Domingo. Com eles me defendo desse tal voraz predador - o capitalismo global. Ele não vai tirar-me o direito a pensar, não vai queimar minhas leituras, nem meus escritos. Nem pense...! Nenhum machado corta a raiz ao pensamento! Continuo a lutar. As minhas armas são os livros, a minha força o pensamento, o meu exército os amigos,a minha voz a liberdade, o meu gatilho a caneta.
Tenho o que o monstro não tem: flores que não murcham.
Ele há-de perecer!
Um abraço daqui

Mª João C.Martins disse...

Ter "... flores que não murcham"
Gostei!