domingo, 14 de junho de 2009

Transferência (Cristiano Ronaldo, ainda)


Vivam os perguntadores televisivos.


Quando, em 1998, estava eu orgulhoso a ver a televisão, José Saramago recebeu o Prémio Nobel da Literatura (um milhão de dólares, menos de um milhão de euros), um perscrutador televisivo perguntou-lhe:

- O que vai fazer com tanto dinheiro?

Não disse com o dinheiro, mas com tanto dinheiro!
O autor de Memorial do Convento, Ensaio sobre a Lucidez, Ensaio sobre a Cegueira, A Jangada de Pedra, A Viagem do Elefante e de tantas obras que engrandecem e prestigiam a literatura portuguesa e mundial lá respondeu, quase com humildade, que era, de facto, muito dinheiro e que iria tentar empregá-lo o melhor que soubesse e pudesse – citei de memória.
Agora, a propósito da transferência dos noventa e quatro milhões, e dos vinte e cinco mil euros de salário diário, por cinco ou seis anos, não ouvi, nunca, dizer-se tanto dinheiro, apenas coisas como a mais cara transferência de sempre. Muito menos fazer-se idêntica pergunta ao futebolista Cristiano Ronaldo, para quem o milhão de Saramago nada mais é do que um punhado de alcagoitas. Em vez disso, para bom entendedor imagens bastam, os perguntadores não perguntaram, mostraram-no aos mimos com Paris Hilton e de férias em Los Angeles onde se pagam dois mil e quinhentos euros por uma noite! Deram-nos a ver outras coisas como jovens de Madrid felizes e contentes, algumas sequiosas, pareceu-me, por passarem a tê-lo à mão, quero dizer, por lá.
Também nos mostraram o senhor Joseph Blater, presidente da FIFA, exultando de satisfação. Para ele o futebol não conhece a crise. Está pujante, compra e vende bem as estrelas de que precisa para fornecer emoções às pessoas, por ser isto o que elas querem. Tal e qual!
De Nova Iorque chegou algo de diferente: disse a ONU que com os noventa e quatro milhões matava a fome a oito milhões de etíopes! Demagogos! O que tem Blater a ver com a Etiópia?
Vivam os perguntadores televisivos! Abaixo a demagogia!

2 comentários:

Filoxera disse...

Agora até sorri... :-)

Raquel Abrantes disse...

O sol não brilha sempre... mas amanhece todos os dias.